Indústria ainda não sabe qual é o futuro do carro, aponta pesquisa

Indústria ainda não sabe qual é o futuro do carro, aponta pesquisa

Veja 5 maiores tendências para carros segundo executivos no mundo e no Brasil. ‘Invasão’ do mundo digital é principal desafio para montadoras, dizem consultorias.

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Qual será o futuro do carro?

  • Deixar o computador assumir o volante e se tornar uma sala de estar?
  • Tornar o motor a combustão uma peça de museu?
  • Ser um produto compartilhado, e não um bem próprio?

E as montadoras? Vão dar lugar a empresas que não produzem só carros, mas tecnologia e serviços de transporte também? Perderão espaço para Google e cia?

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Por enquanto, nem elas sabem. Uma pesquisa da consultoria KPMG com 1 mil executivos do setor automotivo em 42 países aponta para tendências diversas. A unanimidade é que a presença do mundo digital nos carros será cada vez maior, mas não há grandes indicações de qual será o caminho principal para isso se consolidar.

“O que se sabe é que as fabricantes de veículos e as empresas de tecnologia vão trabalhar juntas. Quem vai mandar, quem vai obedecer, isso não sabemos”, diz Ricardo Bacellar, especialista no setor automotivo da KPMG.

Outro estudo, da consultoria Accenture, chegou a conclusão semelhante: “A produção de carros não é mais só voltada ao produto. Está se tornando um jogo de serviço digital”.

E a empresa já estima o tamanho da perda se as montadoras deixarem esse “bonde” passar.

“Se não se digitalizarem, as montadoras podem perder até 15% dos seus lucros atuais”, estima a Accenture.

Por “digitalizar-se”, a consultoria quer dizer tanto promover a interação da fabricante com o consumidor quanto incorporar a tecnologia em processos do desenvolvimento, fabricação e manutenção dos veículos.

A mesma preocupação é expressada por Bacellar, da KPMG, lembrando as empresas de telecomunicações, que acabaram passando ao largo do “boom” dos serviços para smartphones, um mercado dominado desde o início por companhias de tecnologia, como Apple e Google.

Elétricos e conectividade em alta

Perguntados sobre quais seriam as tendências mais importantes para carros nos próximos 8 anos, a maioria dos executivos que trabalham em montadoras e fábricas de autopeças apontou para veículos com motores elétricos a bateria, carros elétricos a hidrogênio (célula de combustível) e conectividade.

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Os tão falados autônomos, carros que dispensam motorista, ficaram apenas em 9º lugar na lista mundial. Mas eles foram parar no topo das respostas dos executivos de montadoras do Brasil.
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“Isso ocorre durante toda a pesquisa. O brasileiro é muito receptivo à tecnologia, se coloca numa posição menos conservadora. Está sempre muito disposto a experimentar novidades”, diz Bacellar. “Tanto que teremos, em breve, o anúncio de uma parceria entre montadora e empresa de tecnologia aqui, algo inédito no mundo.”

Os executivos brasileiros ainda deram peso de serviços como o “car sharing”, em que um carro que pertence a uma empresa ou pessoa é aproveitado por diversos usuários. A General Motors é uma montadora que entrou nesse negócio, com o Maven. Esta tendência também foi considerada muito importante por 50% dos 2.400 consumidores de 42 países ouvidos na pesquisa.

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O que vai ‘empurrar’ o carro?

Motores a combustão não aparecem na lista de tendências, mas também não estão no fim da linha, aponta a pesquisa da KPMG, a despeito de questões como a pressão contra emissão de poluentes e avanços em relação a fontes alternativas de energia.

Para 76% dos executivos ligados ao setor automotivo, esse tipo de motor, seja “bebendo” gasolina, diesel, etanol ou outros combustíveis, ainda terá grande importância nos próximos anos, apesar da aposta nos elétricos.

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Esse percentual sobe para 82%, considerando somente as respostas dos executivos dos Estados Unidos, onde o preço do petróleo caiu e há 2 anos a venda de veículos bate recorde puxada por picapes e SUVs.

Depois do escândalo da Volkswagen, 54% dos executivos de montadoras acreditam que o diesel não será mais usado no futuro.

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Para a KPMG, ele possivelmente vai se manter em casos específicos, como veículos usados para percorrer longas distâncias, áreas rurais e “poucos mercados emergentes”.

O percentual dos que concordam ou concordam em parte que o diesel vai desaparecer é menor entre executivos brasileiros (40%) do que no geral.

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Risco para elétricos

Apesar de o motor elétrico a bateria ter sido o mais apontado entre as tendências, a maioria dos executivos acredita que ele poderá falhar se a infraestrutura necessária para o uso desses propulsores não for suficiente. Junto com a pesquisa, a KPMG divulgou um mapa que mostra as estações de recarga de carros elétricos nos EUA.

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A maioria se concentra nas duas costas, leste e oeste, do país, onde estão estados que incentivam a compra desses veículos, como a Califórnia. Em outros pontos, há estados com um único posto, como a Dakota do Norte.

A Tesla, especializada em fabricar carros elétricos, foi uma das empresas que mais investiram em uma rede mais ampla de postos (apontados em vermelho no mapa acima).

Antes da posse de Donald Trump, a Casa Branca anunciou planos para criar uma rede de 40 mil km para recarga de automóveis elétricos, com 1 a cada 80 km. A iniciativa inclui montadoras como Nissan e BMW, e empresas de energia.

Compra de carro

Muitas pesquisas já apontaram que os jovens têm perdido interesse por terem carro próprio, um dos “sonhos de consumo” de gerações anteriores.

Os executivos concordam e acreditam que isso vale também para os atuais proprietários: para 59% deles, metade das pessoas que têm carro hoje não vão querer ter um daqui a 8 anos.

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Esta foi uma das maiores discordâncias entre o pensamento da indústria e o dos consumidores entrevistados pela KPMG. Só 35% deles concordam total ou parcialmente com a afirmação da tabela acima.

A Accenture ouviu consumidores do Brasil, dos Estados Unidos, da China e da Alemanha sobre como eles pensam que será a compra de um carro nos próximos anos.

Só um terço dos clientes que compraram um carro nos últimos 5 anos diz que gostaria fazê-lo em concessionárias tradicionais na próxima vez. A maioria prefere alternativas, como comprar pela internet ou visitar espaços-conceito da marca, as chamadas “flagship stores”.

Perguntados sobre qual seria o principal motivo que os levaria a comprar um carro via web, brasileiros e chineses escolheram mais a opção “conveniência” do que “preços menores”.

E quase dois terços dos entrevistados no Brasil disseram que, na hora de fechar o preço, quer fazer a negociação pessoalmente na concessionária — mais do que qualquer outro país pesquisado.

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Competição ou cooperação?

Sobre a “invasão” das empresas de tecnologia no setor automotivo, 82% dos executivos ouvidos acham que alguma companhia do Vale do Silício, berço da tecnologia nos EUA, lançará um carro nos próximos 4 anos.

Mas eles não acreditam que essas empresas se tornarão montadoras: 78% entendem que os carros de companhias do Vale do Silício serão montados por fabricantes tradicionais.

“Elas (empresas de tecnologia) têm um interesse significativo no mercado de mobilidade. Se vão querer oferecer o pacote completo (carro, ecossistema digital, interface com o usuário, serviços de mobilidade, etc, ainda não está definido”, avalia a KPMG.

A maioria dos executivos acredita que as companhias de tecnologia serão rivais das fabricantes de carros, e não apenas parceiras.

Fonte: G1

O artigo: Indústria ainda não sabe qual é o futuro do carro, aponta pesquisa, também pode ser encontrado no portal: IN Trânsito.