Restrição de veículos pode ser saída para mobilidade
A frota aumentou e o transporte coletivo perde uma multidão de usuários todos os dias, combinação que promove efeitos terríveis na mobilidade urbana. Em março deste ano, o setor registrou o menor volume de usuários em uma década. Na análise do engenheiro civil e sociólogo Eduardo Alcântara Vasconcellos, assessor da Associação Nacional do Transportes Públicos (ANTP), uma das saídas para reduzir os problemas no trânsito é restringir a circulação de veículos de passeio nos grandes centros.
“Usar a motocicleta ou o automóvel é muito mais conveniente do que usar o ônibus. Isto não é ‘natural’, uma vez que quem usa transporte individual não paga os custos sociais e ambientais que este uso causa. Para que estas pessoas passem a usar o ônibus (ou voltem para eles) a distribuição destes custos precisa mudar: quem usa modos individuais tem de pagar o custo real das externalidades negativas por eles geradas, em termos de uso do espaço viário, de poluição e de segurança no trânsito. Isto significa definir restrições apropriadas ao uso dos automóveis como ocorreu, por exemplo, nos países europeus. Além disto, conforme comentado, o sistema de ônibus deve ser muito bem operado, de forma a garantir velocidade e regularidade”, analisa o especialista.
Inverter a estatística de ocupação do espaço urbano dos automóveis – atualmente é de 80% – que levam 20% da população, requer a melhoria da qualidade do transporte público e a cobrança de usuários de automóveis dos custos sociais e ambientais de sua utilização. “O uso do automóvel tem várias consequências negativas quando comparado ao uso do transporte público. Em primeiro lugar, o uso do automóvel requer muito espaço viário – 40m2 para circular nas cidades a uma velocidade media de 25 km/h – que é incompatível com a capacidade do sistema viário e gera congestionamento; consumo maior de energia por pessoa transportada; emissão de gases de efeito estufa muito maior por pessoa transportada e maior probabilidade de ocorrência de acidentes”, explica o especialista. “A tarifa precisa deixar de ser o único elemento no financiamento do sistema”, defende.
E para trazer os passageiros de volta ao transporte público, é fundamental buscar outros meios de financiar o serviço além da tarifa. Para Vasconcellos, parte dos recursos deve vir de pessoas que usam os veículos individuais e de empresas e atividades que se beneficiam do transporte coletivo.
O especialista contradiz a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) sobre a análise de que o modal está à beira de um colapso. “Embora haja problemas graves, quando comparado a outros países em desenvolvimento percebe-se que o sistema brasileiro tem uma regulamentação e uma estruturação que permitem que haja ônibus circulando todos os dias, das 5h da manhã até 11h da noite (na maioria dos casos)”, avalia.
Para Vasconcellos, os veículos são adequados considerando as condições econômicas do Brasil. “Os trabalhadores têm seus direitos garantidos; é raríssimo ocorrer interrupção do serviço e a segurança no trânsito é alta. Os problemas mais graves são a super ocupação e o desconforto nos veículos nas áreas periféricas das grandes cidades e o custo da tarifa para a parte mais pobre da população, que não tem acesso ao vale-transporte.”
Fonte: Radar Nacional
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